Eis que, numa semana, o País ficou aterrado. Transido, mesmo. Todos os dias, fomos alertados por diversas formas, meios e protagonistas para a temível ofensiva dos jacobinos e pedreiros livres contra a Igreja Católica (IC). Estava em causa a alteração do regime de assistência religiosa nos hospitais e uma tal de proposta do Ministério da Saúde, que o dito ministério enviara à hierarquia da IC para que esta desse sobre a mesma o seu parecer. Inconformada com a proposta, a IC veio para os media dizer de sua justiça sobre um diploma ao qual ninguém a não ser ela e o ministério deitara o olho."Desumanização", "Ataque aos mais pobres dos mais pobres", "Inconcebível", "Inaceitável", "Absurdo", "Ridículo", "Inconstitucional": os adjectivos e as grandiloquências não foram poupados por bispos e outros prelados, enquanto as notícias sobre o assunto garantiam, sempre com a IC como fonte, que a assistência religiosa ia passar a ser apenas possível na hora normal das visitas, que para ter direito a ela o paciente teria de a requisitar por escrito na altura da sua admissão e que se ia "desmantelar" a assistência religiosa residente nos hospitais (e que é exclusivamente católica.
Afirmava-se também que esta proposta substituíra outra à qual a IC, assim como a Comissão da Liberdade Religiosa (na qual estão representadas as outras confissões "registadas"), haviam dado o seu parecer "positivo". Estas informações foram, aparentemente, tomadas pela generalidade dos comentadores e da própria opinião pública como a verdade revelada, apesar de o diploma em causa não ter sido divulgado. Na sua prédica de domingo passado na RTP, Marcelo Rebelo de Sousa insurgia-se contra o novo regime, citando a restrição à hora da visita e o pedido por escrito na admissão; no Público, José Manuel Fernandes falava de ataque jacobino.
O curioso é que, tendo-se finalmente acesso ao diploma - que, diga-se de passagem, embora não sendo um texto definitivo, deveria, em face da polémica, ter sido divulgado pelo Ministério da Saúde - a maior parte daquilo que foi dele dado como certo é falsa. Nem a assistência é restrita ao horário das visitas - pelo contrário - nem é certo que a sua solicitação possa ser apenas feita pelos pacientes a admissão: pode ser feita a todo o tempo do internamento e por familiares ou amigos, por escrito e com assinatura. Mais: a proposta mantém nos hospitais os capelães católicos com vínculo à função pública até que estes se reformem. Só não lhes permite que tenham acesso aos doentes que não lhes peçam assistência. Afinal, parece que havia uma campanha - e feia e insidiosa - mas jacobina, seja lá isso o que for, de certeza não foi.
POR: FERNANDA CÂNCIO IN: http://dn.sapo.pt/2007/10/05/opiniao/a_horripilante_e_mentirosa_campanha_.html
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