sábado, 22 de dezembro de 2007

BRASIL : O SAQUE DO MASP ( MUSEU DE ARTE DE S.PAULO ) .


O saque do Masp ( Museu Arte S. Paulo)


Deixando de fora o Iraque, um país cronicamente saqueado e em condições quase nulas de preservar algum bem de valor artístico, o Brasil assume o destacável terceiro lugar - atrás apenas de Estados Unidos e França - no ranking dos países com maior número de obras de arte furtadas, segundo os dados da Interpol. Um acordo foi assinado, há dez anos, entre essa organização policial internacional e o governo brasileiro, mas apenas 35 das 933 obras furtadas em nosso território, nesse período, foram recuperadas. E, certamente, esse terceiro lugar ainda é mais significativo se compararmos a enorme diferença quantitativa dos acervos norte-americano e francês com o brasileiro. A maneira como foi feito o furto, na madrugada de quinta-feira, de dois valiosos quadros do Museu de Arte de São Paulo (Masp) - o Retrato de Suzanne Bloch, de Pablo Picasso (com valor estimado de US$ 50 milhões), e O Lavrador de Café, de Cândido Portinari (com valor estimado de US$ 5,5 milhões) -, tem lances que de tão inusitados lembram o que o senso comum costuma associar à escola pictórica do surrealismo. Durou apenas 3 minutos e foi executado sem o uso de nenhuma tecnologia moderna - bastaram um macaco hidráulico, um pé-de-cabra e uma velha marreta - o maior e mais ousado furto de obra de arte já realizado no País. As autoridades policiais têm certeza de que os ladrões são os mesmos que fizeram duas tentativas anteriores, fracassadas, de levar obras do mais importante museu de arte da América Latina (e do Hemisfério Sul), com acervo de 8 mil obras avaliado em R$ 17 bilhões.Sem seguro, sem sensor, com sistema de segurança obsoleto e alarme que ficou quase dois meses desligado, porque, quando soava, incomodava os circunstantes - é assim que tem sido "protegido" esse enorme patrimônio artístico brasileiro, concentrado no prédio da Avenida Paulista, projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi, que é um dos principais marcos arquitetônicos da cidade. Na primeira tentativa, em 29 de outubro, os ladrões chegaram às 6 horas. Dois homens disfarçados de vigias dominaram dois seguranças, tentaram chegar ao acervo do segundo andar, forçaram a entrada, o alarme disparou e eles fugiram. Três dias antes do furto das duas telas, provavelmente os mesmos ladrões, como suspeita o delegado do 78º Distrito Policial, usaram um maçarico para entrar por uma porta dos fundos do museu, mas foram surpreendidos pelos vigias e fugiram pela Avenida 9 de Julho. Estranhamente, a polícia não foi avisada dessa ocorrência. Finalmente, na madrugada de quinta-feira, se aproveitando da inacreditável ausência de seguranças - já que os da noite tinham saído antes de os do turno diurno chegarem -, os ladrões entraram e levaram os dois quadros que estavam em salas diferentes. As câmeras de segurança registraram apenas os vultos dos invasores - não dando para distinguir suas feições porque carecem de dois dispositivos modernos que custam R$ 30 mil, que o Masp não pode pagar. Pode-se imaginar o impacto negativo que tem sobre a opinião pública internacional o descaso das instituições brasileiras com nosso patrimônio artístico-cultural, que tem sido saqueado sistematicamente nos últimos tempos, a revelar uma inacreditável negligência tanto dos depositários, públicos e privados, das obras de arte como dos órgãos encarregados da segurança pública. Pouco importam, nesse momento, as conjecturas que se fazem sobre tratar-se de ladrões "profissionais" ou amadores, sobre o roubo ter ou não sido "encomendado" e se está ou não conectado com a atividade de grandes quadrilhas internacionais. A impressionante desproporção entre as 933 obras furtadas em dez anos e as 35 recuperadas já dão conta de como é fácil e lucrativo o saque continuado de nosso patrimônio cultural.O caso do Masp é especialmente lamentável, primeiro, pela importância que tem o museu para o Estado e o País, e, segundo, pela situação financeira cronicamente periclitante em que se encontra, graças a gestões pouco criativas e eficazes - para dizer o menos. Quando se imaginava que tentativas de apoio oficial poderiam encaminhar soluções concretas para o saneamento administrativo do museu, vem esse desfalque abrupto de um patrimônio insubstituível. São Paulo não merecia este "presente" de Natal.


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