A guerra pós-independência gerou em Angola mais de 1 milhão de mortos e 400 mil deslocados. Mais de 14.000 crianças sofrem de deficiências devido à guerra. 60% da população vive em pobreza absoluta ou relativa, 50% não tem acesso a água potável e 70% não tem acesso a cuidados médicos.
Os números que introduzem o Café Luso (*) desta semana são, só por si, aterradores. Como é possível? perguntam, com certeza, todos aqueles que têm memória e que não vivem (apenas) com o mal dos outros. Tenho, contudo, dúvidas se os detentores do Poder em Angola alguma vez pensaram no significado desses números. Se o tivessem feito teriam, há muito, muito tempo, acabado com uma maldita guerra que obriga irmãos a matar irmãos.
São 26 anos de uma penosa (in)dependência que não orgulha a ninguém, sejam angolanos ou portugueses. Isso não significa, está bem de ver, que não existam comemorações. Os portugueses (alguns, pelo menos) comemoram as asneiras que fizeram; os angolanos (alguns, pelo menos) comemoram as asneiras que continuam a fazer.
Enquanto isso o povo morre.
Sem perder de vista os números que nos envergonham, vou tentar responder às questões levantadas.
«Era esta a desejada "descolonização exemplar" que Portugal tão rapidamente fez questão de fazer?»
Com alguma dose de boa vontade sou tentado a dizer que não era essa a descolonização que, seguindo o exemplo subvertido de Salazar, «já e em força» queriam fazer os «revolucionários por correspondência» a quem foi dado, de bandeja, o Poder neste quintal à beira mar plantado.
Mas o que seria de esperar de políticos e militares que para contar até doze tinham (e têm) de se descalçar?
Vendidos à tese de que só os comunistas é que eram bons, os políticos militares e os militares políticos de então procuraram (e conseguiram) fazer tudo ao contrário das regras civilizacionais, preocupados que estavam em exclusivo com a sociedade que era precisodestruir e não com a que era preciso construir.
Era preciso correr com os portugueses (mesmo que eles tivessem, como queria Vasco Gonçalves, de ir para o Campo Pequeno)? Foram corridos. Não todos porque muitos apodreceram nas matas de Angola.
Era preciso dar o poder aos comunistas? Foi dado. Em alguns casos foi dado com uma visível humilhação dos símbolos da Nação portuguesa.
Era preciso anular os adversários dos comunistas? Foram (quase todos) anulados. Para alguma coisa serviu, em época revolucionária, parte da tropa que Portugal tinha em Angola.
Mesmo assim, como ainda hoje se vê, o tiro saiu pela culatra. Nem Portugal, nem Cuba, nem o MPLA conseguiram destruir a UNITA.
«Era esta a independência que os portugueses desejavam? Era esta a independência que os angolanos almejavam?»
Não. Não era esta a independência que os portugueses desejavam, como também não era, não é nem será a que os angolanos desejam.
A maioria dos portugueses e a maioria dos angolanos nunca quiseram o que lhes foi imposto, até porque ambos sabiam e sabem que é muito mais o que os une do que o que os divide.
Só não sabe isto quem, por manifesta e criminosa malvadez, entende que é detentor da verdade absoluta. E esses estão em Portugal como estão em Angola. E esses são todos aqueles que não trabalham para os milhões que têm pouco (ou nada), mas lambem as botas aos poucos que têm milhões.
«Alguém deveria ser responsabilizado por este verdadeiro genocídio?»
É claro que sim. O Tribunal Penal Internacional, do qual tanto se fala por esta hipócrita Europa, deveria julgar os responsáveis, até porque muitos deles ainda por cá e por lá andam.
É certo que muitos deles já há algum tempo concluíram que, afinal, o comunismo/socialismo é apenas o caminho mais longo para o capitalismo. De qualquer modo, podem ter atenuantes mas não devem (não deviam, se estivéssemos num Mundo de Direito) escapar ao veredicto. São, de facto e de jure, responsáveis por este verdadeiro genocídio.
«E a Comunidade Internacional não faz nada?»
Claro que não. Angola tem o petróleo e os diamantes de que a Comunidade Internacional precisa. Essa mesma Comunidade tem as armas e os meios para pôr os angolanos aos tiros uns contra os outros. Não precisa, aliás, de mandar para lá a aviação, os porta-aviões ou os «boinas verdes».
Assim sendo, basta-lhe lamentar o genocídio sem mover uma palha para acabar com ele.
Enquanto isso o povo morre... mas o petróleo continua a jorrar a caminho das multinacionais.(*) http://www.portugal-linha.pt/cafeluso/c011106.html
Publicada por Orlando Castro em 15:13 2 comentários
São 26 anos de uma penosa (in)dependência que não orgulha a ninguém, sejam angolanos ou portugueses. Isso não significa, está bem de ver, que não existam comemorações. Os portugueses (alguns, pelo menos) comemoram as asneiras que fizeram; os angolanos (alguns, pelo menos) comemoram as asneiras que continuam a fazer.
Enquanto isso o povo morre.
Sem perder de vista os números que nos envergonham, vou tentar responder às questões levantadas.
«Era esta a desejada "descolonização exemplar" que Portugal tão rapidamente fez questão de fazer?»
Com alguma dose de boa vontade sou tentado a dizer que não era essa a descolonização que, seguindo o exemplo subvertido de Salazar, «já e em força» queriam fazer os «revolucionários por correspondência» a quem foi dado, de bandeja, o Poder neste quintal à beira mar plantado.
Mas o que seria de esperar de políticos e militares que para contar até doze tinham (e têm) de se descalçar?
Vendidos à tese de que só os comunistas é que eram bons, os políticos militares e os militares políticos de então procuraram (e conseguiram) fazer tudo ao contrário das regras civilizacionais, preocupados que estavam em exclusivo com a sociedade que era precisodestruir e não com a que era preciso construir.
Era preciso correr com os portugueses (mesmo que eles tivessem, como queria Vasco Gonçalves, de ir para o Campo Pequeno)? Foram corridos. Não todos porque muitos apodreceram nas matas de Angola.
Era preciso dar o poder aos comunistas? Foi dado. Em alguns casos foi dado com uma visível humilhação dos símbolos da Nação portuguesa.
Era preciso anular os adversários dos comunistas? Foram (quase todos) anulados. Para alguma coisa serviu, em época revolucionária, parte da tropa que Portugal tinha em Angola.
Mesmo assim, como ainda hoje se vê, o tiro saiu pela culatra. Nem Portugal, nem Cuba, nem o MPLA conseguiram destruir a UNITA.
«Era esta a independência que os portugueses desejavam? Era esta a independência que os angolanos almejavam?»
Não. Não era esta a independência que os portugueses desejavam, como também não era, não é nem será a que os angolanos desejam.
A maioria dos portugueses e a maioria dos angolanos nunca quiseram o que lhes foi imposto, até porque ambos sabiam e sabem que é muito mais o que os une do que o que os divide.
Só não sabe isto quem, por manifesta e criminosa malvadez, entende que é detentor da verdade absoluta. E esses estão em Portugal como estão em Angola. E esses são todos aqueles que não trabalham para os milhões que têm pouco (ou nada), mas lambem as botas aos poucos que têm milhões.
«Alguém deveria ser responsabilizado por este verdadeiro genocídio?»
É claro que sim. O Tribunal Penal Internacional, do qual tanto se fala por esta hipócrita Europa, deveria julgar os responsáveis, até porque muitos deles ainda por cá e por lá andam.
É certo que muitos deles já há algum tempo concluíram que, afinal, o comunismo/socialismo é apenas o caminho mais longo para o capitalismo. De qualquer modo, podem ter atenuantes mas não devem (não deviam, se estivéssemos num Mundo de Direito) escapar ao veredicto. São, de facto e de jure, responsáveis por este verdadeiro genocídio.
«E a Comunidade Internacional não faz nada?»
Claro que não. Angola tem o petróleo e os diamantes de que a Comunidade Internacional precisa. Essa mesma Comunidade tem as armas e os meios para pôr os angolanos aos tiros uns contra os outros. Não precisa, aliás, de mandar para lá a aviação, os porta-aviões ou os «boinas verdes».
Assim sendo, basta-lhe lamentar o genocídio sem mover uma palha para acabar com ele.
Enquanto isso o povo morre... mas o petróleo continua a jorrar a caminho das multinacionais.(*) http://www.portugal-linha.pt/cafeluso/c011106.html
Publicada por Orlando Castro em 15:13 2 comentários
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