sábado, 19 de janeiro de 2008

LUANDA CAPITAL DA HOLANDA !!!




Martinho Júnior



A mentalidade de “novo rico” instalou-se em Angola para ficar, durante muitos e bons anos, praticamente sem “contra correntes”, ou não se tivesse tornado o neo liberalismo omnipresente, sob a égide duma “nova elite” que manobra a partir do poder “marimbando-se” para os tão estafados quão manipulados partidos e para as mais satânicas seitas religiosas, a começar pela “tradicional” Igreja Católica e Apostólica Romana…




O angolano é por natureza extrovertido e é reconhecidamente propenso à ostentação, parece ser, sociológica e psicologicamente, esse o indicativo.
De facto, poucas cidades no mundo poderão gabar-se de possuir, por exemplo, uma frota de veículos 4x4 de luxo como Luanda, muito menos com as cores apelativas que os (des)cobrem: prateados, dourados, niquelados, tudo o que brilha… e isso apesar da poeira que é um autêntico “smog”, particularmente dois ou três dias após os períodos de chuvas (não há poeira que deixe de fazer brilhar tanta “limousine”)…Muitos desses veículos, são propriedade, ainda que passageira, do estado angolano, (é só vê-los, por exemplo, alinhados frente à Simportex), ou então, foram importados para serem colocados ao serviço dos milhares de funcionários que operam nas representações das multinacionais do petróleo, em disputa dos blocos petrolíferos do prodigioso“offshore” angolano.A febre dos espelhos e de suas miragens, passou por fim também para as “torres” que se vão erguendo, cada qual com um distinto conceito de engenharia e, no que toca a “novo riquismo”, os chineses parece terem vindo dar uma preciosa ajudinha: na avenida do Congresso a “torre” que se está a erguer, não está a deslumbrar tanto pelas inovações tecnológicas, (um erecto falo interior de betão armado, cercado por ossaturas metálicas de muitos andares), deslumbra muito mais, pelo seu revestimento, (uma superfície espelhada em amarelo, um amarelo muito próximo da cor dos diamantes do vale do Cuango… vá lá saber-se como os chineses “descobriram” aquele amarelo!).
O que pode tornar mais atónito o viajante que chegue à capital e se instale por exemplo, ali no Hotel Presidente, cujo edifício foi construído no fim da época colonial, no período em que os diamantes disputavam um lugar cimeiro na balança económica do país e na cabeça de muitos cidadãos (na altura a maior parte portugueses), um edifício situado mesmo junto ao porto, é o “novo” horizonte que se vai oferecendo da janela de sua protegida “room”: o anfiteatro da baía, num anel que vai desde o Hotel Panorama, na ilha do Cabo, até precisamente à base do Hotel Presidente, está a ser alvo dum imenso aterro, a partir de dragagens nunca vistas, que vão roubar areia, sabe-se lá onde, aos imensos depósitos naturais propiciados pela corrente fria de Benguela, para as descarregar, às toneladas, ao longo da curva da Marginal, consolidando o que é já cemitério de mabangas…O atónito visitante, mesmo que por lá, de onde veio, ou na Holanda, não hajam mabangas, poderá mesmo perguntar: afinal onde estou mesmo… inacreditavelmente na Holanda?!É assim o “novo riquismo” angolano, que se instalou para ficar: com um imenso território à sua inteira mercê – em números redondos 1.250.000 km2, com uma baixíssima densidade demográfica (cerca de 15 habitantes por km2) – exemplarmente Luanda, a sede desse imenso espaço quase vazio, necessita ganhar ao mar, terreno para suas espelhadas “torres”, por que elas foram “encafuadas” nos quintalões que albergavam as construções típicas dos séculos passados, ora demolidos sem apelo, nem agravo, “graças” à febre da especulação imobiliária, típica deste “mercado” de tão pródigo agoiro e agora, saturado o velho perfil da cidade, precisam do mar para continuar a saga dos ricos e dos poderosos...O preço inflacionado da construção na “baixa” de Luanda, fiquem descansados, ainda não atingiu os seus máximos, evoluindo ao contrário da “bolha imobiliária” dos Estados Unidos e obrigando a alterações locais profundas na geografia humana, entre pobres e ricos: os ricos, de preferência, vão-se portanto à beira mar plantando, ou plantando-se “desenrascadamente” mesmo na “baixa”, onde só suas alvas bolsas poderão disputar, ao milímetro quadrado, um mísero apartamento das espelhadas “torres”… os pobres irremediavelmente e cada vez mais vão sendo atirados para as periferias longínquas, onde abundam os desertificados espaços, onde morre o caju e a manga, apesar dos muitos rios da região, como se uma draga gigantesca, escolhesse as duas espécies humanas e as canalizasse para o seu “novo” destino…Há um castigo no entanto para todos, ricos e pobres: os poucos espaços verdes sobreviventes, tendem a ser cada vez mais reduzidos a pó, ou então, a tornarem-se fermento para os cogumelos urbanos, ainda que falhem as infra estruturas básicas – água, energia e saneamento, para não falar das outras falhas...Rócócó por rócócó, até por que em Luanda os vestígios holandeses foram ilustrando os apelidos de cada vez mais proeminentes famílias locais, como os Van Dúnem, entre os Van Deste, os Cohen e outras, rócócó por rócócó, “embarco” nessa da ilusão do viajante que “encalhou” no Hotel Presidente, paredes meias ao retalhado e cada vez mais ineficaz porto que foi “estimulado” para a “engorda” das contas de meia dúzia: apesar da imensidão do território, apesar da insignificante densidade populacional, acho mesmo que Luanda, com apelo ao beneplácito de Sua Majestade a Rainha da Holanda, já que a mais ninguém se consegue apelar, neste mundo cada vez mais globalizado, acho que se poderia candidatar a capital da Holanda!!!...Haverá ou não algum Van Dúnem que “embarque” nessa?......É que diamantes há quanto baste, (que o digam as sucessivas gerações Oppenheimer)... e as bolsas de Antuérpia ficarão ali mesmo discreta mas eficientemente à mão de semear, melhor, à mão de distribuir, Benelux nos valha!!!






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