O P I N I Ã O
A maneira como os jornais deste fim de semana e de ontem apresentaram o noticiário sobre a pantomima eleitoral de Cuba poderá ter levado muitos leitores a acreditar que se tratava realmente de uma eleição e que do seu resultado dependeria o futuro político do país, como se "la revolución", que já dura 49 anos, estivesse se encaminhando para uma democracia. A começar dos títulos, o noticiário desses dias tratou as assim chamadas eleições para a Assembléia Nacional do Poder Popular - o parlamento-fantoche da ilha de Fidel - como se tivessem alguma importância digna de nota para o futuro do país, quando o octogenário ditador enfermo deixar a cena definitivamente.
Nem na União Soviética de Stalin havia eleições em que o total de candidatos e o total de cadeiras pretensamente em disputa eram os mesmos - 614. O governo fidelista não acha necessário disfarces, como os utilizados na antiga URSS e em outros regimes totalitários onde o governo ganha eleições com 98,2% dos votos. Em Cuba são 100% dos votos nos nomes escolhidos pelo partido único para representar o "poder popular", entre eles o do próprio Fidel, no poder desde janeiro de 1959. Isso, sim, é que é o autêntico voto em lista fechada, que produz o único parlamento nomeado do mundo.
Cumprido o ritual, a nova Assembléia Nacional, já na sua sessão inaugural, marcada para 24 de fevereiro, escolherá entre seus membros 31 que constituirão o Conselho de Estado, que é o principal órgão do Executivo cubano e que os 614 sabem quais serão. Esse conselho "elege" seu presidente - neste caso decide se Fidel continua ou não na presidência. Desde 31 de julho de 2006, em seguida à primeira das cirurgias a que precisou se submeter o outrora chamado El Caballo, o seu irmão Raúl, de 75 anos, o substitui interinamente. Ora, em 24 de fevereiro a Assembléia outra coisa não fará salvo homologar o que até então tiver decidido em suas confabulações a restrita elite dirigente cubana - além dos irmãos Castro, o vice Carlos Lage, herdeiro presumível da dupla de gerontocratas, o presidente do Parlamento, Ricardo Alarcón, o chanceler Felipe Pérez Roque e as figuras que em todo regime ditatorial preferem exercer o poder nas sombras, como os controladores do partido único, órgãos de propaganda, polícia política, serviços secretos e Forças Armadas. Enquanto isso, restará à mídia basicamente interpretar as mensagens délficas dos chefões e ler as entrelinhas do Granma, o Pravda do PC cubano e do castrismo. Foi no Granma, a propósito, que Fidel praticamente renunciou ao confessar, na quarta-feira passada, que não tem força física para governar: "Faço o que posso: escrevo." De seu lado, ao dizer no domingo que "temos de enfrentar diferentes situações e grandes decisões pouco a pouco", Raúl indicava que Fidel não voltará nem se aposentará de vez. A sua saída, enquanto estiver vivo, será antes um fade away, um desvanecimento. Das "grandes decisões" a que aludiu Raúl, a principal decerto envolve o que sobrou da economia cubana depois dos desastres do socialismo. Também essa questão está malposta. A expressão reforma econômica é enganadora: presume a existência, mal ou bem, de um sistema estruturado de produção, serviços e trocas comerciais. Nesse sentido, a economia cubana migrou para a Flórida com os primeiros 600 mil fugitivos da revolução - e desde então o Estado norte-americano cresceu exponencialmente.A economia da revolução cubana foi a dos 30 anos de mesadas recebidas da antiga União Soviética. Hoje, é a das bondades de Hugo Chávez, que envia à ilha o equivalente a 92 mil barris diários de petróleo, em troca dos serviços prestados na Venezuela pelos médicos cubanos. Até o que de melhor fez o castrismo - a educação - perdeu o apelo popular. "As inscrições nas faculdades diminuem", observa o diretor do Instituto de Estudos Cubanos da Universidade de Miami, Jaime Suchlicki. "Os jovens preferem trabalhar como recepcionistas ou atendentes em bares de hotéis, onde ganham gorjetas em euros ou dólares, a ser engenheiros ou médicos." Explica-se, os salários cubanos são em média de US$ 26. Depois de meio século de economia "planificada", Cuba continua exportando produtos primários e importando comida. Mas suas principais receitas vêm do turismo e das remessas dos seus exilados
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